quarta-feira, 23 de abril de 2014

"Hoje eu quero ouvir o canto dos pássaros no beiral de minha janela.
Quero ver as flores no meu jardim baterem palmas para o voo das borboletas.
Quero ver a água cristalina e fresca correr contornando os obstáculos pelo caminho, em direção à vida.
Hoje, quero ver o sol, feliz, risonho, e que não se deixe encobrir por nenhuma nuvem cinza.
Quero ver a chuva bater nos vidros de minha janela, me chamando para dançar com ela.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

1
prosa.poesia
Sua Excelência, Dona Lebre Vereadora
Por Wilson Bueno
Uma fábula inédita do autor de "Cachorros do Céu"
Romualda, o horrível nome da Lebre; e era, outra vez, uma vez.
Cansada de peticionar a seus pares rigorosa investigação com vistas a descobrir quem sistematicamente boicotava fosse dado o nome de La Fontaine a badalada avenida da Floresta, decidiu Romualda -que os íntimos chamavam Romú-, proceder, ela mesma, minuciosa diligência para chegar ao autor, ou autores, de tão teimoso embaraço.
Correu a Lebre ao cartório de notas e ofícios a fim de que fosse expedida urgente carta precatória a Paris. Empenhada estava em tirar uma certidão negativa sobre o probo ainda que remoto passado de nosso homenageado.
Movia-lhe o propósito de, com isso, quem sabe, convencer a Câmara de que a homenagem, ademais de justa, premiava alguém que devotara toda existência a construir um verdadeiro zôo de palavras. Sem jamais extrair disso qualquer vantagem. Além do que os bichos deviam a ele mais que fama, a eternidade.
Igualmente inúteis acabaram se revelando certidões negativas, carimbos, selos, assinaturas reconhecíveis em Nice, em Dijon ou na Calábria. A petição de Romualda junto a seus pares esbarrava -e isto ela acabou descobrindo bem mais tarde-, sabem vocês em quem? No Macaco, é claro.
Claro hoje em dia, bem entendido, porque antes da investigação levada a efeito por Romualda, nossa vereadora, o mistério era só um mistério, nas galerias e em plenário. Chegou a pensar, antes disso, nossa lebre edil, pudesse pesar sobre o fabuloso fabulista alguma feia mancha biográfica, tamanhas as tantas dificuldades.
Nada, nada. Era só a vingança da Formiga, que de cachos e babados com o Macaco, presidente da edilidade, não conseguia engolir, mesmo trezentos anos depois, que La Fontaine a tivesse trocado pela Cigarra. Borralheira, ela, a Formiga, ainda hoje; e, do símio, agora, escrava.
Era inverno e, por aquilo, ou por isso mesmo, provida e saciada, a Floresta inteira cantava.
Ah, o Macaco!
(Publicado em 3/12/2006)

Em certos momentos me vejo ainda muito criança. Por isso, eu fico muito feliz em ler histórinhas e fábulas.Leio feliz! Vivo a história! Chego a sentir-me dentro dela. Hoje, foi o que fiz. Pesquisei e achei bastantes que aos pouquinhos vou colocando aqui. afinal, quem tem seus filhotinhos e netinhos tem que ter assunto para alegrar e prender a atenção desses seres maravilhosos! Não acham?  Sendo assim, espero que gostem. Beijinhos 

quarta-feira, 16 de abril de 2014

O QUE VALE SABER LÍNGUAS?

Um alemão, procurando orientação sobre o caminho, pára o carro ao lado de outro com dois alentejanos dentro.

O alemão pergunta:
- 'Entschuldigung, können sie Deutsch sprechen?'
Os dois alentejanos ficaram mudos.
Tentou de novo:
- 'Excusez-moi, parlez vous français?'
Os dois continuaram a olhar para ele impávidos e serenos.
- 'Prego signori, parlate italiano?'
Nada por parte dos alentejanos.
- 'Hablan ustedes español?'
Nenhuma resposta.
- 'Please, do you speak English?'
Nada....
Angustiado, o alemão desiste e vai-se embora.

Um dos alentejanos vira-se para o outro e diz:
- Talvêz devêssemos aprenderi uma língua estrangêra...

- Mas p'ra quê, compadri? Aquele gajo sabia cinco e adiantou-lhe alguma coisa?
Foto: O QUE VALE SABER LÍNGUAS?

Um alemão, procurando orientação sobre o caminho, pára o carro ao lado de outro com dois alentejanos dentro.

O alemão pergunta:
- 'Entschuldigung, können sie Deutsch sprechen?'
Os dois alentejanos ficaram mudos.
Tentou de novo:
- 'Excusez-moi, parlez vous français?'
Os dois continuaram a olhar para ele impávidos e serenos.
- 'Prego signori, parlate italiano?'
Nada por parte dos alentejanos.
- 'Hablan ustedes español?'
Nenhuma resposta.
- 'Please, do you speak English?'
Nada....
Angustiado, o alemão desiste e vai-se embora.

Um dos alentejanos vira-se para o outro e diz:
- Talvêz devêssemos aprenderi uma língua estrangêra...

- Mas p'ra quê, compadri? Aquele gajo sabia cinco e adiantou-lhe alguma coisa?



ME CONTARON LOS ABUELOS





Una de las cosas que más me gustaba de la Semana Santa, durante mi niñez allá en el pueblo, era la procesión del Domingo de Resurrección porque, según contaban los abuelos, en alguna oportunidad vieron bajar por el río una pequeña barcaza adornada con guirnaldas y, sobre ella, la celestial imagen de Jesús Resucitado con toda su grandeza... desde entonces, cada año, voy a rezar junto al río.


EN EL RÍO

Bajo los sauces junto a la ribera
con mis recuerdos me senté aquel día
y, pude ver a un niño que corría,
allá en la orilla como yo lo hiciera.

Oí sonar en forma placentera
de aquel caudal su alegre melodía
y, quedose extasiada el alma mía,
al fluir de la fuente pasajera.

En tanto una paloma se posaba
en el árbol, que sombra me brindaba, 
vi un edén en el río reflejado 

y flotando en las aguas cristalinas
−aún con la señal de las espinas−
la imagen de Jesús Resucitado.


Rahulig/014
DRA

domingo, 13 de abril de 2014

Os dias da Semana Santa

Domingo de Ramos

O Domingo de Ramos abre solenemente a Semana Santa, com a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém.
Jesus é recebido em Jerusalém como um rei, mas os mesmos que o receberam com festa o condenaram à morte. Jesus é recebido com ramos de palmeiras. Nesse dia, são comuns procissões em que os fiéis levam consigo ramos de oliveira ou palmeira, o que originou o nome da celebração. Segundo os evangelhos, Jesus foi para Jerusalém para celebrar a Páscoa Judaica com os discípulos e entrou na cidade como um rei, mas sentado num jumentinho - o simbolo da humildade - e foi aclamado pela população como o Messias, o rei de Israel. A multidão o aclamava: "Hosana ao Filho de Davi!" Isto aconteceu alguns dias antes da sua PaixãoMorte e Ressurreição. A Páscoa Cristã celebra então a Ressurreição de Jesus Cristo.

Segunda-Feira Santa

É o segundo dia que vem depois de Domingo de Ramos onde se recorda a prisão de Jesus Cristo.

Terça-Feira Santa

É o terceiro dia da Semana Santa, onde são celebradas as Sete dores de Nossa Senhora Virgem Maria. E muito comum também por ser o dia de penitência no qual os cristãos cumprem promessas de vários tipos ou o dia da memória do encontro de Jesus e Maria no caminho do Calvário.

Quarta-Feira Santa

É o quarto dia da Semana Santa. Em algumas igrejas celebra-se neste dia a piedosa procissão do encontro de Nosso Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores. Ainda há igrejas que neste dia celebram o Ofício das Trevas, lembrando que o mundo já está em trevas devido à proximidade da morte de Jesus.

Quinta-Feira da Ceia

É o quinto dia da Semana Santa e, na manhã deste dia, nas catedrais das dioceses, o bispo se reúne com o seu clero para celebrar a Celebração do Crisma, na qual são abençoados os óleos que serão usados na administração dos sacramentos do BatismoCrisma e Unção dos Enfermos. Com essa celebração se encerra a Quaresma.
Neste mesmo dia, à noite, são relembrados os três gestos de Jesus durante a Última Ceia: a Instituição da Eucaristia, exemplo do Lava-pés, com a instituição de um novo mandamento (ou "ordenança") segundo algumas denominações cristãs, e a instituição do sacerdócio. É neste momento que Judas Iscariotes sai para entregar Jesus por trinta moedas de prata. E é nesta noite em que Jesus é presointerrogado e, no amanhecer da sexta-feira, açoitado e condenado.
A igreja fica em vigília ao Santíssimo, relembrando os sofrimentos de Jesus, que tiveram início nesta noite. A igreja já se reveste de luto e tristeza, desnudando os altares (quando são retirados todos os enfeites, toalhas, flores e velas), tudo para simbolizar que Jesus já está preso e consciente do que vai acontecer. Também cobrem-se todas as imagens existentes no templo.

Sexta-Feira Santa ou Sexta-Feira da Paixão

É quando a Igreja recorda a morte de Jesus. É celebrada a Solene Ação LitúrgicaPaixão e a Adoração da Cruz. A recordação da morte de Jesus consiste em quatro momentos: A Liturgia da Palavra, Oração Universal, Adoração da Cruz e Rito da Comunhão. Presidida por presbítero ou bispo, os paramentos para a celebração são de cor vermelha.

Sábado Santo ou Sábado de Aleluia

É o dia da espera. Os cristãos junto ao sepulcro de Jesus aguardam sua ressurreição. No final deste dia é celebrada a Solene Vigília Pascal, a mãe de todas as vigílias, como disse Santo Agostinho, que se inicia com a Bênção do Fogo Novo e também do Círio Pascal; proclama-se a Páscoa através do canto do Exultet e faz-se a leitura de 8 passagens da Bíblia (4leituras e 4 salmos) percorrendo-se toda história da salvação, desde Adão até o relato dos primeiros cristãos. Entoa-se oGlória e o Aleluia, que foram omitidos durante todo o período quaresmal. Há também o batismo daqueles adultos que se prepararam durante toda a quaresma. A celebração se encerra com a Liturgia Eucarística, o ápice de todas as missas.

Domingo de Páscoa

É o dia mais importante para a fé cristã, pois Jesus vence a morte para mostrar o valor da vida. Esse dia é estendido por mais cinquenta dias até o Domingo de Pentecostes.
Mesmo sendo uma pessoa católica, não me sinto à vontade para escrever sobre os dias da semana santa. Por isso, o que aqui partilho é de origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


quinta-feira, 10 de abril de 2014

Amigas, vou passar para vocês uma receita que não é de família, mas, pelos anos que a tenho e pelas alterações que já fiz, já posso dizer que é!.
Para onde a levo, sempre, sempre, faz sucesso e pedem bis, desta vez, fi-lo para um chá de fraldas e fiz mais uma modificação que lhe deu um toque especial!
sem cobertura.Tipo Naked Cake (Bolo Rústico) Também conhecido como bolo nu ou bolo rústico, é nada mais do que um bolo sem cobertura, com as laterais aparentes, que virou modinha nos casamentos e festas mundo afora. É muito simples e fica muito bonito.

Ingredientes para o bolo.

1 1/2 Xícara (chá) de óleo de cozinha
5 ovos inteiros
1 xícara (chá) de leite
1 1/2 Xícara (chá) de açúcar
2 Xícaras (chá) de chocolate em pó
1 1/2 xícara (chá) de farinha de trigo
1 (colher de sopa) cheia de fermento em pó

No liquidificador, bata o óleo, os ovos, o leite, o açúcar, o chocolate, a farinha de trigo e o fermento em pó. Despeje numa forma untada e enfarinhada. Leve ao forno médio (180º) pré aquecido por mais ou menos 40 minutos. ( Faça o teste do palito). Deixe esfriar e desenforme.

Recheio
3 barras de chocolate branco
2 latas de creme de leite para o recheio
Açúcar de confeiteiro

Coloque o chocolate em banho maria até derreter. Junte o creme de leite. Misture bem. Reserve.

Com uma faca , fatie o bolo horizontalmente em camadas. Para que as camadas não se quebrem, cada uma deve ficar mais ou menos com 2cm de altura.
2- Com uma faca menor, retire as rebarbas das laterais das camadas, para um bom acabamento.
3- Posicione a primeira camada (a de baixo) já na bandeja em que o bolo ficará exposto e comece a despejar o recheio por cima.
4- Coloque bastante recheio sobre essa camada, deixando escorrer pelas laterais (caso queira).
Posicione a segunda camada exatamente por cima da primeira.
não coloque recheio sobre ela. Só polvilhe bastante açúcar de confeiteiro em sua superfície.
Posicione a próxima camada centralizadamente no bolo, em cima da parte polvilhada com açúcar de confeiteiro.
Despeje o recheio generosamente sobre essa camada.

Para finalizar, polvilhe açúcar de confeiteiro sobre ele.
Pronto! O bolo já está pronto, agora é só decorar a gosto. O ideal é que fique bem despretencioso mesmo, por isso você pode criar o padrão de ornamentação que desejar. É interessante que passe a impressão de fartura e variedade.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Origem: Wikipédia, 

  • Il Divo é o nome do quarteto musical multinacional de pop operático criado pelo empresário de música, executivo e estrela de TV, Simon Cowell. Formados no Reino Unido, também são contratados da gravadora de Cowell,Syco Music.1 Tem como integrantes o suíço Urs Bühler (tenor dramático), o norte-americano David Miller (tenor lírico), o francês Sébastien Izambard (voz popular) e o espanhol Carlos Marín (barítono lírico). Até o momento, eles já venderam mais de 26 milhões de álbuns em todo o mundo.2
  • Acho eles o máximo!!


  • Frases Mágicas



    Magníficos!!
    GALINHA CEGA – João Alphonsus
    Na manhã sadia, o homem de barbas poentas, entronado na carrocinha, aspirou forte. O ar passava lhe dobrando o bigode ríspido como a um milharal. Berrou arrastadamente o pregão molengo:
    - Frangos BONS E BARATOS!
    Com as cabeças de mártires obscuros enfiadas na tela de arame os bichos piavam num protesto. Não eram bons. Nem mesmo baratos. Queriam apenas que os soltassem. Que lhes devolvessem o direito de continuar ciscando no terreiro amplo e longe.
    - Psiu!
    Foi o cavalo que ouviu e estacou, enquanto o seu dono terminava o pregão. Um bruto homem de barbas brancas na porta de um barracão chamava o vendedor cavando o ar com o braço enorme.
    Quanto? Tanto. Mas puseram-se a discutir exaustivamente os preços.
    Não queriam por nada chegar a um acordo. O vendedor era macio. O comprador brusco.
    - Olhe esta franguinha branca. Então não vale?
    - Está gordota… E que bonitos olhos ela tem. Pretotes… Vá lá!
    O homem de barbas poentas entronou-se de novo e persistiu em gritar pela rua que despertava:
    - Frangos BONS E BARATOS!
    Carregando a franga, o comprador satisfeito penetrou no barracão.
    - Olha, Inácia, o que eu comprei.
    A mulher tinha um eterno descontentamento escondido nas rugas.
    Permaneceu calada.
    - Olha os olhos. Pretotes…
    - É.
    - Gostei dela e comprei. Garanto que vai ser uma boa galinha.
    - É.
    No terreiro, sentindo a liberdade que retornava, a franga agitou as penas e começou a catar afobada os bagos de milho que o novo dono lhe atirava divertidíssimo.
    A rua era suburbana, calada, sem movimento. Mas no alto da colina dominando a cidade que se estendia lá embaixo cheia de árvores no dia e de luzes na noite. Perto havia moitas de pitangueiras a cuja sombra os galináceos podiam flanar à vontade e dormir a sesta.
    A franga não notou grande diferença entre a sua vida atual e a que levava em seu torrão natal distante. Muito distante. Lembrava-se vagamente de ter sido embalaiada com companheiros mal-humorados. Carregaram os balaios a trouxe-mouxe para um galinheiro sobre rodas, comprido e distinto, mas sem poleiros. Houve um grito lá fora, lancinante, formidável. As paisagens começaram a correr nas grades, enquanto o galinheiro todo se agitava, barulhando e rangendo por baixo. Rolos de fumo rolavam com um cheiro paulificante. De longe em longe as paisagens paravam. Mas novo grito e elas de novo a correr. Na noitinha sumiram-se as paisagens e apareceram fagulhas.Um fogo de artifício como nunca vira. Aliás ela nunca tinha visto um fogo de artifício. Que lindo, que lindo. Adormecera numa enjoada madorna…
    Viera depois outro dia de paisagens que tinham pressa. Dia de sede e fome.
    Agora a vida voltava a ser boa. Não tinha saudades do torrão natal. Possuía o bastante para sua felicidade: liberdade e milho. Só o galo é que às vezes vinha perturbá-la incompreensivelmente. Já lá vinha ele, bem elegante, com plumas, forte, resoluto. Já lá vinha. Não havia dúvida que era bem bonito. Já lá vinha… Sujeito cacete.
    O galo – có, có, có – có, có, có – rodeou-a, abriu a asa, arranhou as penas com as unhas. Embarafustaram pelo mato numa carreira doida. E ela teve a revelação do lado contrário da vida. Sem grande contrariedade a não ser o propósito inconscientemente feminino de se esquivar, querendo e não querendo.
    - A melhor galinha, Inácia! Boa à beça!
    - Não sei por quê.
    - Você sempre besta! Pois eu sei…
    - Besta! besta, hein?
    - Desculpe, Inácia. Foi sem querer. Também você sabe que eu gosto da galinha e fica me amolando.
    - Besta é você!
    - Eu sei que eu sou.
    Ao ruído do milho se espalhando na terra, a galinha lá foi correndo defender o seu quinhão, e os olhos do dono descansaram em suas penas brancas, no seu porte firme, com ternura. E os olhos notaram logo a anormalidade. A branquinha – era o nome que o dono lhe botara – bicava
    o chão doidamente e raro alcançava um grão. Bicava quase sempre a uma pequena distância de cada bago de milho e repetia o golpe, repetia com desespero, até catar um grão que nem sempre era aquele que visava.
    O dono correu atrás de sua branquinha, agarrou-a, lhe examinou os olhos. Estavam direitinhos, graças a Deus, e muito pretos. Soltou-a no terreiro e lhe atirou mais milho. A galinha continuou a bicar o chão desorientada. Atirou ainda mais, com paciência, até que ela se fartasse. Mas
    não conseguiu com o gasto de milho, de que as outras se aproveitaram, atinar com a origem daquela desorientação. Que é que seria aquilo, meu Deus do céu. Se fosse efeito de uma pedrada na cabeça e se soubesse quem havia mandado a pedra, algum moleque da vizinhança, ai… Nem por sombra imaginou que era a cegueira irremediável que principiava.
    Também a galinha, coitada, não compreendia nada, absolutamente nada daquilo. Por que não vinham mais os dias luminosos em que procurava a sombra das pitangueiras? Sentia ainda o calor do sol, mas tudo quase sempre tão escuro. Quase que já não sabia onde é que estava a luz, onde é que estava a sombra.
    Foi assim que, certa madrugada, quando abriu os olhos, abriu sem ver coisa alguma. Tudo em redor dela estava preto. Era só ela, pobre, indefesa galinha, dentro do infinitamente preto; perdida dentro do inexistente, pois que o mundo desaparecera e só ela existia inexplicavelmente dentro da sombra do nada. Estava ainda no poleiro. Ali se anularia, quietinha, se finando quase sem sofrimento, porquanto a admirável clarividência dos seus instintos não podia conceber que ela estivesse viva e obrigada a viver, quando o mundo em redor se havia sumido.
    Porém, suprema crueldade, os outros sentidos estavam atentos e fortes no seu corpo. Ouviu que as outras galinhas desciam do poleiro cantando alegremente. Ela, coitada, armou um pulo no vácuo e foi cair no chão invisível, tocando-o com o bico, pés, peito, o corpo todo. As outras cantavam.
    Espichava inutilmente o pescoço para passar além da sombra. Queria ver, queria ver! Para depois cantar.
    As mãos carinhosas do dono suspenderam-na do chão.
    - A coitada está cega, Inácia! Cega!
    - É.
    Nos olhos raiados de sangue do carroceiro (ele era carroceiro) boiavam duas lágrimas enormes.
    Religiosamente, pela manhãzinha, ele dava milho na mão para a galinha cega. As bicadas tontas, de violentas, faziam doer a palma da mão calosa.
    E ele sorria. Depois a conduzia ao poço, onde ela bebia com os pés dentro da água. A sensação direta da água nos pés lhe anunciava que era hora de matar a sede; curvava o pescoço rapidamente, mas nem sempre apenas o bico atingia a água: muita vez, no furor da sede longamente guardada, toda a cabeça mergulhava no líquido, e ela a sacudia, assim molhada, no ar. Gotas inúmeras se espargiam nas mãos e no rosto do carroceiro agachado junto do poço. Aquela água era como uma bênção para ele. Como a água benta, com que um Deus misericordioso e acessível aspergisse todas as dores animais. Bênção, água benta, ou coisa parecida: uma impressão de doloroso triunfo, de sofredora vitória sobre a desgraça inexplicável, injustificável, na carícia dos pingos de água, que não enxugava e lhe secavam lentamente na pele.
    Impressão, aliás, algo confusa, sem requintes psicológicos e sem literatura. Depois de satisfeita a sede, ele a colocava no pequeno cercado de tela separado do terreiro (as outras galinhas martirizavam muito a branquinha) que construíra especialmente para ela. De tardinha dava-lhe outra vez milho e água, e deixava a pobre cega num poleiro solitário, dentro do cercado.
    Porque o bico e as unhas não mais catassem e ciscassem, puseram-se a crescer. A galinha ia adquirindo um aspecto irrisório de rapace, ironia do destino, o bico recurvo, as unhas aduncas. E tal crescimento já lhe atrapalhava os passos, lhe impedia de comer e beber. Ele notou mais essa miséria e, de vez em quando, com a tesoura, aparava o excesso de substância córnea no
    serzinho desgraçado e querido.
    Entretanto, a galinha já se sentia de novo quase feliz. Tinha delidas lembranças da claridade sumida. No terreiro plano ela podia ir e vir à vontade até topar a tela de arame, e abrigar-se do sol debaixo do seu poleiro solitário.
    Ainda tinha liberdade – o pouco de liberdade necessário à sua cegueira. E milho. Não compreendia nem procurava compreender aquilo. Tinham soprado a lâmpada e acabou-se. Quem tinha soprado não era da conta dela. Mas o que lhe doía fundamente era já não poder ver o galo de plumas bonitas.
    E não sentir mais o galo perturbá-la com o seu có-có-có malicioso. O ingrato.
    Em determinadas tardes, na ternura crescente do parati, ele pegava a galinha, após dar-lhe comida e bebida, se sentava na porta do terreiro e começava a niná-la com a voz branda, comovida:
    - Coitadinha da minha ceguinha!
    - Tadinha da ceguinha…
    Depois, já de noite, ia botá-la no poleiro solitário.
    De repente os acontecimentos se precipitaram.
    - Entra!
    - Centra!
    A meninada ria a maldade atávica no gozo do futebol originalíssimo.
    A galinha se abandonava sem protesto na sua treva à mercê dos chutes. Ia e vinha. Os meninos não chutavam com tanta força como a uma bola, mas chutavam, e gozavam a brincadeira.
    O carroceiro não quis saber por que é que a sua ceguinha estava no meio da rua. Avançou como um possesso com o chicote que assoviou para atingir umas nádegas tenras. Zebrou carnes nos estalos da longa tira de sola.
    O grupo de guris se dispersou em prantos, risos, insultos pesados, revolta.
    - Você chicoteou o filho do delegado. Vamos à delegacia.
    Quando saiu do xadrez, na manhã seguinte, levava um nó na garganta.
    Rubro de raiva impotente. Foi quase que correndo para casa.
    - Onde está a galinha, Inácia?
    - Vai ver.
    Encontrou-a no terreirinho, estirada, morta! Por todos os lados havia penas arrancadas, mostrando que a pobre se debatera, lutara contra o inimigo, antes deste abrir-lhe o pescoço, onde existiam coágulos de sangue…
    Era tão trágico o aspecto do marido que os olhos da mulher se esbugalharam de pavor.
    - Não fui eu não! Com certeza um gambá!
    - Você não viu?
    - Não acordei! Não pude acordar!
    Ele mandou a enorme mão fechada contra as rugas dela. A velha tombou nocaute, mas sem aguardar a contagem dos pontos escapuliu para a rua gritando: – Me acudam!
    Quando de novo saiu do xadrez, na manhã seguinte, tinha açambarcado todas as iras do mundo. Arquitetava vinganças tremendas contra o gambá.
    Todo gambá é pau-d’água. Deixaria uma gamela com cachaça no terreiro. Quando o bichinho se embriagasse, havia de matá-lo aos poucos. De-va-gari-nho.
    GOSTOSAMENTE.
    De noite preparou a esquisita armadilha e ficou esperando. Logo pelas 20 horas o sono chegou. Cansado da insônia no xadrez, ele não resistiu. Mas acordou justamente na hora precisa, necessária. A porta do galinheiro, ao luar leitoso, junto à mancha redonda da gamela, tinha outra mancha escura que se movia dificilmente.
    Foi se aproximando sorrateiro, traiçoeiro, meio agachado, examinando em olhadas rápidas o terreno em volta, as possibilidades de fuga do animal, para destruí-las de pronto, se necessário. O gambá fixou-o com os olhos espertos e inocentes, e começou a rir:
    - Kiss! kiss! kiss!
    (Se o gambá fosse inglês com certeza estaria pedindo beijos. Mas não era. No mínimo estava comunicando que houvera querido alguma coisa. Comer galinhas por exemplo. Bêbado.)
    O carroceiro examinou o bichinho curiosamente. O luar, que favorece os surtos de raposas e gambás nos galinheiros, era esplêndido. Mas apenas tocou-o de leve com o pé, já simpatizado:
    - Vai embora, seu tratante!
    O gambá foi indo tropegamente. Passou por baixo da tela e parou olhando para a lua. Se sentia imensamente feliz o bichinho e começou a cantarolar imbecilmente, como qualquer criatura humana:
    - A lua como um balão balança!
    A lua como um balão balança!
    A lua como um ……
    E adormeceu de súbito debaixo de uma pitangueira.
    Cem_melhores_contos_brasileiros_do_século_ – _Italo_Moriconi

    • Arlete Guerra
      Escreve um comentário...
      Um continho para terminar o dia . É um pouco comprido, mas gostoso de ler.
    Ontem e hoje tirei o dia para arrumar os meus armários dos banheiros e os roupeiros. Foi um trabalho ótimo mas muito cansativo. Primeiro, tirei tudo das gavetas e prateleiras. Depois limpei os armários e, por fim, sacudi, dobrei e arrumei. Esta é a pior parte pois é um levanta, baixa, levanta, baixa, que no final do dia me deixou toda quebrada. Mas valeu a pena. Sabe aquilo que você tem há muito tempo para fazer e vai empurrando com a barriga, deixando a consciência um pouco pesada? Pois é, era assim comigo!  Era o remorso da falta do dever cumprido. Eu andava assim. Ontem, já me levantei decidida a não empurra mais com a barriga e agir com as mãos. Como se diz, o difícil é o começar, depois... hahahaha! Estou feliz e me sentido leve!




    segunda-feira, 7 de abril de 2014

    Connie Evingson (nascida em Hibbing, MN) é uma americana cantora que executa jazz e música pop . Ela mora em Minneapolis , Minnesota . Ela tem sido um solista convidada da Orquestra de Minnesota e Toronto Symphony. Ela já apareceu com Doc Severinsen e Bobby McFerrin . Ela estava em A Prairie Home Companion , em 2009. Ela foi entrevistada sobre seu álbum Sweet Life feliz na rádio NPR em 28 de julho de 2013.
    Evingson é a criadora da produção de palco, Febre, A Tribute to Peggy Lee.
    Fonte Wikipedia